O tempo fecha e está aberta a temporada de piadas. “A Apac não avisou?”. A sensação de inexatidão da previsão do tempo em Pernambuco passa longe de representar a rotina dentro de laboratórios da Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), marcado por olhares vidrados, 24 horas por dia, às telas de monitoramento de satélites, radares e estações remotas de captação das condições atmosféricas em todo o território estadual. São 10 meteorologistas para dar conta de 300 plataformas de coleta de dados (PCDs) e de um grande radar instalado em Chã Grande, na Mata Norte do estado, de forma a conceber, em tempo hábil, informações sobre o tempo. Mas, afinal, a Apac erra tanto?
A inexatidão existe. Especialistas do tempo explicam porque isso acontece, até com certa frequência em determinadas época do ano. Zirludes Lopes, meteorologista da APAC, afirma que os profissionais fazem as previsões baseados em dados atuais coletados dos equipamentos: satélite, radar, PCDS e modelos, para prever as condições futuras. “É como se cada etapa do processo da previsão do tempo contasse uma história”. A síntese de todas as informações são processadas em variáveis de equações físicas, considerando a localização no globo terrestre. E é esse volume que guarda a tal margem de erro. Devido a dinamicidade da atmosfera, a previsão do tempo não pode ser feita baseada em dados obtidos de apenas um local, alguns eventos, mesmo que pequenos, acabam interferindo em outras regiões.
“A defasagem em relação aos horários que são feitos os cálculos e suas aproximações são os fatores que geram erros na previsão”, explica o meteorologista Thiago do Vale. Os dados são trabalhados em horários padrão, à luz do fuso horário do meridiano de Greenwich. No caso do Recife, o processamento dá conta de previsões para horários específicos: 00h, 06h, 12h, 18h. Essa defasagem de tempo não pode ser revertida facilmente, uma vez que os dados partem de uma central no Reino Unido, que permite uma visão geral de dados de todo o globo. “Normalmente, a previsão para a manhã é feita de meia-noite e durante esse intervalo a configuração da atmosfera já não se encontra na mesma de quando foi prevista”, completa. Nesse caso, com a tecnologia disponível, são feitos cálculos aproximados para gerar estimativas meteorológicas, o que não permite tanta exatidão.
É nesse universo que são abertas lacunas para fenômenos formados e dissipados com muita velocidade. O exemplo mais comum na Região Metropolitana do Recife é o vórtice ciclônico superior, responsável por provocar chuvas durante o verão na área. “Ele é conhecido por ser inconstante, a cada momento está mudando de posição, podendo tanto favorecer a chuva ou inibi-la e mudar o que foi previsto”, ressalta Thiago do Vale. “Por isso, quanto maior a antecedência da previsão, maior a chance de errar”.
E se for em períodos de estações mais inconstantes, como no outono e inverno, principalmente entre os meses de junho e julho, a margem de erro da previsão duplica. Porém, em períodos que os sistemas são mais regulares, os modelos conseguem capturar melhor e a previsão tem mais chances de acertos. “As previsões são feitas baseadas em informações aproximadas do que poderá acontecer se a atmosfera se comportar do jeito que a física está sugerindo”.
Pequenas chuvas, granizo ou rajadas de ventos fortes estão entre os fenômenos que a Apac é incapaz de prever. “Chuvas de até 2mm são consideradas de microescalas e os modelos não conseguem captar porque cada nuvem tem seu nível de base e teto e se a nuvem não estiver nos níveis correspondentes aos dos modelos, não será captada. Comportamentos dinâmicos e aleatórios, o modelo não tem como enxergar devido às resoluções”, explica Thiago. A partir do momento em que a chuva forte é detectada, o órgão aciona da Defesa Civil do município e do estado, a fim de tentar evitar maiores estragos e fatalidades, já que o Recife tem áreas de morros e, ao mesmo tempo, está quase ao mesmo nível do mar.